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Nossas Histórias

ESSE BLOG É PARA CONTARMOS AS NOSSAS HISTÓRIAS, MOSTRAR A NOSSA LUTA E A NOSSA VITÓRIA...

terça-feira, 28 de maio de 2013

Depoimento da HERDEIRA...

ABUSO + AMEAÇAS (tio - ex marido da minha tia por parte de pai)

Ano: 1987-1992
Idade: 7-12 anos (mas pode ter começado antes)

Quando éramos menores, eu e a minha irmã, às vezes, passávamos o final de semana na casa da minha tia madrinha (irmã do meu pai) junto com ela e com o seu ex marido. Eu o tinha como um segundo pai. Ele era a pessoa em quem confiava e não tinha medo (do meu pai eu tinha).
Um dos episódios aconteceu quando tinha mais ou menos 11-12 anos. Em um sábado à noite, de um determinado final de semana estava na sala assistindo televisão, a luz estava apagada. Minha tia estava na cozinha fazendo o jantar e a minha irmã estava em um dos quartos brincando enquanto aguardávamos a chegada do tio. Quando ele chegou me abraçou, começou a beijar o meu pescoço, percebi que estava acontecendo algo diferente, tentava com os braços me afastar, mas por ele ser forte continuava me agarrando, passou a boca desde o meu pescoço até o colo, me segurava com um dos braços dando a volta pela minha cintura e com a mão do outro braço segurou o meu pescoço. Abriu com força os dois primeiros botões do meu vestido, passou a boca no colo, com o zíper da calça aberto, com os dois braços me puxou para junto do corpo dele até que consegui o empurrar e correr para o banheiro. Chorei muito, tomei banho, estava com nojo. Perdi momentaneamente a voz, não quis jantar e fiquei com medo de dormir lá. Sempre que dormíamos na casa da minha tia, dormíamos eu, minha irmã e ela ou eu e minha irmã em um quarto e ele em outro ou os dois em outro. Nessa noite dormimos eu no canto da parede, minha irmã no meio e minha tia na ponta da cama. Ele não tentou mais nada e agia como se não tivesse feito nada de errado. Quando cheguei em casa no domingo pensei em nunca mais ir para a casa dela, me preocupava comigo e com a minha irmã.
Passaram-se alguns meses e em outro final de semana fomos novamente para a casa dela. O sábado foi tranqüilo, porém, sempre me esquivava dele quando se aproximava com a intenção de “brincadeiras” que sempre fazia em que agarrava, beijava o pescoço, colocava no colo e fazia carinho. Mas no domingo em um momento em que estava lendo no quarto da minha tia, ela estava na cozinha fazendo o almoço e a minha irmã na sala vendo televisão, ele entrou no quarto, encostou um pouco a porta, me puxou pelas pernas para a beirada da cama e se deitou em cima de mim esfregando o corpo no meu. Consegui sair daquela situação, fui para o banheiro e depois fiquei na cozinha com a minha tia, torcendo para chegar a hora de ir embora. Ameaçou-me falando que se contasse alguma coisa para alguém ele me machucaria e/ou faria alguma coisa contra a minha tia e/ou contra a minha família. Depois desse dia nunca mais fomos para a casa dela. Nas ligações que a minha tia fazia para a casa dos meus pais ele fazia questão de que me chamassem para falar com ele, ouvia ameaça e a pergunta de quando voltaria para passar férias com eles.
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Quando tinha 16 anos meus pais viajaram e pela primeira vez fiquei sozinha em casa. Antes de viajar meu pai avisou a minha tia, pois qualquer coisa que precisasse ela seria a pessoa a quem deveria recorrer. Numa determinada tarde ouvi a campainha tocar, olhei através do olho mágico e o tio estava no portão, continuei olhando para ver se via a minha tia, pois pensei que poderiam ter ido ver se estava tudo bem, mas ela não estava, ele estava sozinho e sabia que eu também estava só. Ele insistiu, não abri e foi embora. Não falei sobre o que aconteceu com ninguém durante 5 anos. Em 1998, após um sequestro com roubo e abuso (voltarei para relatar) consegui falar com uma amiga sobre o abuso sofrido pelo ex marido da minha tia. Em 2010 contei o que aconteceu a uma tia por parte de mãe e a minha irmã, mas pedi para não contarem a ninguém devido ao fato de a minha mãe até hoje não ter uma boa relação com a minha tia, por outros motivos.
Ano passado ao começar a escrever esse relato a “ficha” de que era abusada desde pequena “caiu”, pois as “brincadeiras” que sempre fazia em que agarrava, beijava o pescoço, colocava no colo, fazia “carinho”, passava a mão na minha perna... já faziam parte quando era bem menor. Tentei lembrar quando começou exatamente, mas só me recordei a partir dos 7 anos, então, não sei se começou antes disso, não duvido que tenha acontecido.




Reações durante esses anos:

Ansiedade
Apatia
Confusão
Culpa pelo o que aconteceu
Culpa por não ter dito nada a ninguém na época para que, talvez, fosse preso e anos depois ele não ter a chance de matar um homem, pois se talvez tivesse sido preso não teria feito mal a mais ninguém
Decepção
Dificuldade de me aproximar das pessoas
Insegurança
Isolamento em todos os lugares, inclusive em casa (comecei a me afastar das pessoas com medo de que me fizessem mal e por não querer ficar chorando na frente das pessoas)
Medo de que fizesse mal a minha família
Medo de que me fizesse mal novamente
Nojo
Perda de confiança (ele era a figura masculina que confiava, não tinha medo)
Preocupação
Susto
Tensão
Tristeza (porque gostava muito dele e por meus pais não se interessarem em saber o motivo pelo qual chorava com mais frequência, por só reclamarem, criticarem, baterem e colocarem de castigo)
Vergonha

Choro mais constante
Dor de cabeça
Passei a ficar mais calada
Perda momentânea de voz
Vomito (durante algumas semanas após o jantar)


Reação da família (em casa) diante da mudança de comportamento:
- Pai: sempre reclamava, criticava, ameaçava bater e colocar de castigo e, às vezes, batia e colocava de castigo quando chorava, dizendo que não tinha motivo para chorar, pois tinha tudo o que precisava (referente à parte material), mas nunca perguntava o que estava acontecendo.
- Mãe: reclamava quando chorava, mas também não perguntava o que estava acontecendo.
- Avó: reclamava e perguntava o motivo do choro.
- Irmã: indiferente.


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Como lidei com o que aconteceu: no início me sentia culpada pelo o que aconteceu, parei para analisar se me vesti de forma mais sensual, que chamasse a atenção dele, se falei alguma coisa e de alguma forma que justificasse o que ele fez, depois percebi que não havia feito nada de anormal e nunca tive o interesse de chamar a atenção para passar o que passei. Depois comecei a pensar no passado dele segundo o que ele mesmo falava, era ex combatente da segunda guerra mundial, viu muitos colegas morrerem e eu acreditava que algumas características dele como ciúme, possessividade e até mesmo o que fez comigo poderia ter vindo desse passado e até mesmo do que passou na infância e desconhecia. Porém, após ele ter assassinado um homem (mais ou menos em 2002), ter sumido e ficar foragido, foi descoberto que nem mesmo o nome que ele usava era verdadeiro, então, passei a desconfiar desse passado de ex combatente de guerra, não sei mais se foi real, de uma hora para a outra não conhecia mais aquele em quem um dia confiei. Atualmente, creio que teve um passado, incluindo a infância, bem problemático para fazer o que fez comigo e com o rapaz, embora não justifique e saiba que nem todos que tiveram um passado complicado reproduzem o que vivenciou de ruim. Na verdade quis procurar alguma justificativa para o que fez, não queria acreditar no que aconteceu...                                                                            (Herdeira)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mulher alemã escreve livro inédito sobre estupros que sofreu na Segunda Guerra Mundial / Susanne Beyer

Gabriele Köpp foi estuprada repetidamente por soldados russos em 1945, quando tinha apenas 15 anos de idade. Agora, aos 80 anos, ela tornou-se a primeira mulher alemã a lançar um livro escrito sob o seu próprio nome a respeito da violência sexual sofrida durante a Segunda Guerra Mundial.

Köpp levou uma vida plena na qual teve tudo – tudo menos o amor romântico. Ela conta que isto se deveu à falta de sorte. O número de mulheres era maior do que o de homens após a guerra, e nenhum dos poucos homens que restaram era o companheiro certo para ela. “Além disso, eu não teria sido capaz de sentir qualquer coisa”, acrescenta Köpp.
Durante aqueles 14 dias, Köpp foi estuprada seguidamente. Ela tinha 15 anos de idade, e não conhecia nada sobre sexo.


Agora Köpp escreveu um livro sobre aqueles 14 dias e os estupros, intitulado “Warum war ich bloss ein Mädchen?” (“Por Que eu Tinha que Ser uma Garota?”). O livro constitui-se em um documento sem precedentes, porque é o primeiro trabalho do gênero escrito voluntariamente por uma mulher que foi estuprada nos meses finais da Segunda Guerra Mundial, e que, anos depois, descreveu essas experiências e fez delas o tema central de um livro.

“Correndo para a ponta de uma faca”

Na noite de 25 de janeiro de 1945, Köpp estava embalando os seus pertences, preparando-se para fugir. A sua mãe lhe disse para se apressar, porque os russos aproximavam-se da cidade, e afirmou que a encontraria mais tarde. Köpp queria conversar com a mãe naquela noite, mas a mulher estava silenciosa e mal falou com a filha, nem sequer para avisá-la das várias coisas que poderiam acontecer enquanto ela estivesse fugindo. “De certa forma, ela permitiu que eu corresse para a ponta de uma faca”, escreve Köpp.
Em 26 de janeiro de 1945, Köpp e a sua irmã mais velha foram embora de casa. Ela saberia mais tarde que os soviéticos libertaram o campo de concentração de Auschwitz no dia seguinte, 27 de janeiro. A raiz dos sofrimentos que estavam prestes a ter início para Gabriele Köpp encontrava-se nos crimes cometidos pelos seus compatriotas alemães.
Ela mal se lembra de ter se despedido da mãe. Na verdade, ela escreve que só recentemente permitiu-se acreditar que não houve despedida alguma.
Köpp embarcou em um trem de carga dotado de pesadas portas de correr. A cidade já estava sob fogo de artilharia. Ao mesmo tempo, ela jamais imaginou que se passariam décadas até que pudesse retornar para casa. Espiando através das pequenas janelas do vagão de carga, ela percebeu que o trem seguia para o sul, em vez de deixar a cidade no rumo norte, como havia acreditado.
Ela sabia que os russos tinham cercado o sul. Pouco tempo depois, ela ouviu o som do fogo de artilharia, e o trem parou. Aparentemente, a locomotiva havia sido atingida. As portas de correr estavam trancadas, e a única forma de sair do vagão era espremendo-se por uma das janelas altas. Köpp era uma garota atlética e conseguiu passar pela janela, e um soldado a empurrou pela pequena abertura. A irmã dela ficou para trás, dentro do vagão. Ela nunca mais a viu.
“Eu desprezo essas mulheres”
Köpp caiu na neve e, a princípio, ficou deitada no solo para proteger-se dos tiros. Outros refugiados também conseguiram escapar do trem, e todos começaram a correr rumo a uma fazenda e, a seguir, para a aldeia próxima. Köpp os seguiu. Um padeiro deixou que ela entrasse no seu estabelecimento.Na vila, soldados soviéticos portando lanternas grandes procuravam garotas sob a luz fraca. Um deles agarrou Köpp. No dia seguinte, ela foi levada para uma outra casa, onde foi estuprada por um soldado e, logo depois, por um outro. Na manhã seguinte, ela foi empurrada para dentro de um estábulo onde foi estuprada por dois homens. 

À tarde, Köpp escondeu-se debaixo de uma mesa em um aposento repleto de refugiados. Quando os soldados vieram até a casa, procurando garotas, a mulher mais velha gritou: “Onde está a pequena Gabi?”, e a puxou de sob a mesa. “Eu senti o ódio crescer dentro de mim”, escreve ela. Ela foi arrastada até uma casa saqueada. “Eu não tinha lágrimas”, escreve ela. Na manhã seguinte, foram as mulheres, mais uma vez, que a “empurraram” para os braços de um “oficial ávido”. “Eu detesto aquelas mulheres”, escreve ela.
A situação transcorreu dessa forma, “ininterruptamente”, por duas semanas. Depois disso, ela foi levada para uma fazenda, onde conseguiu esconder-se dos soldados...

http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/02/27/mulher-alema-escreve-livro-inedito-sobre-estupros-que-sofreu-na-segunda-guerra-mundial.jhtm

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Depoimento da amiga Marcia Longo...

ESSE DEPOIMENTO ESTÁ SOB O NOME VERDADEIRO...PARABÉNS A MARCIA, QUE DEIXOU DE SER UMA FILHA DO SILÊNCIO!!!

"Vivi a experiencia do abuso sexual dos 3 aos 11 anos pelo meu pai e depois, entre os 9 e 10 anos, pelo meu irmão mais velho. Entre todos os traumas que enfrentei acho que o que foi mais difícil de entender e superar foi a sensação de culpa e vergonha que sentia. Acho que a sensação de culpa vinha do sentimento direto de ter sentido prazer nos momentos de abuso. Isso doía muito pra falar, pq eu sentia muita vergonha de ter me sentido excitada sexualmente. Eu pensava: sou tão horrível qto eles (pai e irmão). Eu não presto entre muitos outros sentimentos confusos. Depois de muito tempo falando sobre isso no grupo e na terapia, comecei a entender que meu corpo reagiu a um estimulo. Poderia ter sido um estimulo de amor, de alegria mas, no meu caso foi um estimulo sexual e meu corpo reagiu a isso. Depois que entendi isso ficou muito mais fácil lidar com minha experiencia de abuso e principalmente com minha sexualidade. Gostaria muito de saber a opinião de outras pessoas de como se sentem a respeito e como superaram esse obstaculo. Bjo a tod@s e cuidem-se sempre com muito carinho."

Depoimento da Liza...

"Sou uma Mulher, "Filha do Silêncio"; no auge da minha maturidade (53 anos de idade). Silenciei toda a minha dor dos abusos que sofri na infância e na adolescência. Isto não quer dizer que não ficaram 'sequelas'. Até hoje ainda faço 'terapia' por Depressão. Razões? Muitas! Mas, só eu sei o 'foco' de todas as razões. Depois de muitas tentativas de suicídio; e cicatrizes tatuadas em meu corpo e em minh'alma; desisti de querer morrer! Tudo bem... eu posso viver com isso. A maturidade me ensinou que - "uma pessoa, ou duas, podem lhe tirar por alguns momentos o sorriso; mas, não podem lhe tirar o 'amor' à vida para sempre..." - Voltei a acreditar no ser humano (homens); e, em todas as razões para viver. Tocando a vida... encontrei com um antigo amigo de trabalho. Ele, um prof. de musculação e eu, na época, profa. de dança de salão; em uma academia. Foi ótimo revê-lo e recordarmos os velhos tempos... Mantivemos contato por alguns meses; saímos juntos; reunimos antigos amigos da academia, etc. Numa noite me ligou para sairmos. Era uma segunda-feira (25 de março - queria apagar esta data do calendário; mas não posso); não estava afim de sair... Segunda-feira! Então o convidei para vir à minha casa... Pensei - "Não tem nada demais..." - Há muito ele estava interessado em ver minhas 'pinturas'... Era uma boa ocasião. Ahhh... Que ingenuidade! Minhas irmãs, "Filhas do Silêncio" não preciso nem dizer o que aconteceu, depois de algumas 'conversinhas' e um "NÃO" bem sonoro; e muitos outros - "não, não... pare eu não quero! - Para resumir; eu, uma mulher 'madura' me vi com dois dedos da mão quebrados, muitos hematomas nos braços e pernas; e sangramentos nas regiões íntimas.... Coloquei aquele 'ser', para fora da minha casa, na ponta de uma faca que peguei na cozinha. Sim! Só posso chamá-lo de 'ser', 'criatura'... Porque, um "animal", não ataca uma fêmea aleatoriamente; ele só 'cruza' para reprodução da espécie, respeitando 'cio' da fêmea e a ordem da natureza; e um "homem" de verdade, 'ouve' quando a mulher diz 'não'. Para este tipo de criatura, ainda não encontrei uma palavra que o identifique. Ah! Se ele tentasse, se aproximar de mim, ou dizer qualquer coisa... Com certeza este depoimento, teria outro fim. Um de nós dois, no dia seguinte estaríamos estampados nas primeiras páginas 'policiais' dos um jornais da cidade. DEUS... Estava iluminando minha casa naquela hora, como sempre esteve em minha vida; para que as coisas não ficassem pior. Ele foi embora sem fazer nada... Sem dizer nada! Eu sabia que precisava de atendimento 'médico'; e imediatamente peguei o telefone... em frações de segundos comecei a organizar meus pensamentos, para relatar os motivos da 'emergência'. Os médicos da 'emergência', já conhecem o meu histórico de "Doente Depressiva", com tendências suicidas e auto-mutilações. Jamais acreditariam em qualquer coisa que eu falace. Me internariam imediatamente; como se eu estivesse em mais um surto de "auto-mutilação"! Nessa fração de segundo o telefone foi deslizando da minha mão... Então, ME CALEI! Silenciei a minha voz mais uma vez... Quando criança, não sabia à quem falar. CALEI! Na adolescência o medo e a vergonha não me deixaram falar. CALEI! E agora na maturidade, por ter todo o conhecimento da "vida"; não posso falar. Vou ter que levar este GRITO preso na garganta e mais uma 'cicatriz' na alma para toda a eternidade! A natureza curou as feridas do meu corpo; sou uma mulher forte... E o silêncio e o amor que trago em meu coração - DEUS! É que podem me proporcionar algum conforto e restabelecer meu equilíbrio para continuar acreditando nos seres humanos e em todas as razões para viver. Mas, este mesmo "Deus", só pode ungir com sua 'Energia' e sua 'Luz' as feridas de minh'alma, que 'sangram, sangram... Sangram! - Sou uma "FILHA DO SILÊNCIO"!"

sábado, 18 de maio de 2013

Depoimento postado no grupo pela amiga Elza Augusta


'Até hoje me pergunto por que ninguém me defendia dos ataques do meu pai. Hoje, trabalho para proteger crianças e jovens'
M.M., 40 anos, pedagoga

Meu pai era contador e minha mãe, costureira. Morávamos na casa da minha avó paterna, num bairro de classe média de São Paulo.
Ela era a única que me defendia das investidas do meu pai.
Um dia minha avó saiu e ele, bêbado e drogado, me violentou.
Eu fiquei muito machucada, mas a única reação da minha mãe foi colocar o marido para dormir na sala.
Depois disso, meu pai não me molestou mais sexualmente, mas batia freqüentemente em mim e no meu irmão, seis anos mais novo.
Até hoje me pergunto por que ninguém nos defendia.
Aos 14 anos, me casei com um militar, cinco anos mais velho, moço de boa família e sem vícios.
Mas logo ele se transformou num marido violento e, repetindo o comportamento do meu pai, me batia muito.
Mesmo tendo dois filhos pequenos, eu me sentia tão infeliz que tentei suicídio aos 17 anos.
Mas uma vizinha me salvou e, a partir daquele dia, nasceu uma nova M.
Criei coragem e denunciei meus pais para o juizado de menores.
Aos 18 anos, consegui a guarda do meu irmão caçula e me separei.
Comecei uma vida nova e um trabalho social.
Montei um grupo de teatro, chamado P., para levar minha mensagem contra a violência doméstica e o abuso infantil a um número maior de pessoas.
Depois, me formei em pedagogia com especialização em psicologia.
Passei a receber denúncias e encaminhá-las à Justiça, com o objetivo de proteger as crianças.
Logo no início desse trabalho, encontrei quatro meninos em situação de risco. Dois voltaram a viver com os parentes, um morreu e eu fiquei com o T., a primeira das 27 crianças que adotei.
Me casei de novo, com E., com quem descobri uma nova forma de amar, baseada no carinho e no respeito.
Ele me fez sonhar de novo e da nossa união nasceu a P., que tem 15 anos.
Do primeiro casamento, tenho a M., de 20 anos, e o M., de 19.
Ao todo temos 30 filhos.
Em 1994, a Parábola foi registrada como organização não-governamental e tornou-se referência mundial na área de violência doméstica.
Já recebemos e investigamos cerca de 6 mil denúncias de abuso.
Oitocentas crianças e jovens receberam tratamento integral ou parcial.
Esse trabalho foi a melhor forma de transformar a minha dor.'

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Curiosidade muito triste...

Lina Medina, a mais jovem mãe confirmada na história da medicina, teve um filho com apenas 5 anos.

Seu pai, Tiburcio Medina, notou que Lina - uma de seus nove filhos - estava com a barriga avolumada e ante as crendices de seus vizinhos que diziam que tinha uma cobra dentro e culpavam a Apu, o espírito dos Andes, levou-a aos curandeiros da aldeia, que disseram tratar-se de um tumor e aconselharam 
que levasse-a até Pisco, a cidade mais próxima.Na época, os pais pensaram em se tratar de um tumor, mas seus médicos determinaram que se tratava de uma gravidez de sete meses. Dr. Gerardo Lozada a levou para Lima, capital do Peru, para que outros especialistas confirmassem a gravidez antes da cirurgia. Um mês e meio depois, em 14 de Maio de 1939 (era comemorado o Dia das Mães no Peru), ela deu a luz um menino por cesariana, feita necessariamente, já que sua pélvis era muito pequena.

Seu filho nasceu com 2,7 kg e recebeu o nome de Gerardo, em homenagem ao médico que realizou a operação. Apesar de fisicamente amadurecida, Lina preferia brincar com bonecas do que cuidar de seu filho, que recebia alimentação de uma enfermeira. Gerardo foi criado pelo irmão de Lina e levado a acreditar que Lina era sua irmã, mas aos dez anos descobriu que na verdade se tratava de sua mãe depois de ser ridicularizado na escola. Ele cresceu saudavelmente e morreu em 1979 aos 40 anos de uma doença na medula óssea. Nunca foi confirmada qualquer relação entre a doença e seu nascimento de uma mãe tão precoce.

O mistério da história não se trata na precocidade de Lina, já que isso pode ser explicado como desequilíbrio hormonal, mas sim quem seria o pai da criança, pois a peruana nunca revelou o segredo e se nega a falar do assunto até hoje, chegando a recusar uma entrevista com a Reuters em 2002. Seu pai chegou a ser preso após o nascimento do filho, acusado de incesto, mas foi libertado após alguns dias por ausência de provas para incriminá-lo. As suspeitas recaíram então em um irmão de Lina que era deficiente mental.

No Peru, muitas vezes a garota era associada com a Virgem Maria, que havia concebido um filho sem o pecado original, por obra do Espírito Santo. Algumas pessoas da região acreditam até hoje que Gerardo é filho do deus Sol.

Além do feito, Lina ficou conhecida por também nunca revelar o nome do pai da criança e também por passar sua vida em pobreza, sem qualquer assistência do governo peruano. Casou-se em 1972 e chegou a ter outro filho aos 38 anos de idade. Hoje vive em um bairro pobre em Lima. 


segunda-feira, 13 de maio de 2013

MORTE DA MENINA ARACELI CABRERA SANCHES ETERNIZOU O 18 DE MAIO / CLAUDIA SOBRAL

18 de maio é a data em que Araceli Cabrera Crespo, de nove anos incompletos, desapareceu da escola onde estudava para nunca mais ser vista com vida. A menina foi estupidamente martirizada. Araceli foi espancada, estuprada, drogada e morta numa orgia de drogas e sexo. Seu corpo, o rosto principalmente, foi desfigurado com ácido. Seis dias depois do massacre, o corpo foi encontrado num terreno baldio, próximo ao centro da cidade de Vitória, Espírito Santo. Seu martírio significou tanto que esta data se transformou no “Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.
ARACELI: Símbolo da violência. (Por Pedro Argemiro)

Durante mais de três anos, na década de 70, pouca gente ousou abrir a gaveta do Instituto Médico-Legal de Vitória, no Espírito Santo, onde se encontrava o corpo de uma menina de nove anos incompletos. E havia motivos para isso. Além de o corpo estar barbaramente seviciado e desfigurado com ácido, se interessar pelo caso significava comprar briga com as mais poderosas famílias do estado, cujos filhos estavam sendo acusados do hediondo crime. Pelo menos duas pessoas já tinham morrido em circunstâncias misteriosas por se envolverem com o assunto.

Ainda assim, corajosos enfrentavam os poderosos exigindo justiça, tanto que o corpo permanecia insepulto na fria gaveta, como se fosse a última trincheira da resistência. O nome da menina era Araceli Cabrera Crespo e seu martírio significou tanto que o dia 18 de maio - data em que ela desapareceu da escola onde estudava para nunca mais ser vista com vida - se transformou no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Por uma dessas cruéis ironias, Jardim dos Anjos era onde ficava um casarão, na Praia de Canto, usado por um grupo de viciados de Vitória (ES) para promover orgias regadas a LSD, cocaína e álcool, nas quais muitas vítimas eram crianças - anjos do sexo feminino. Entre a turma de toxicômanos, era conhecida a atração que Paulo Constanteen Helal, o Paulinho, e Dante de Brito Michelini, o Dantinho, líderes do grupo, sentiam por menininhas. Dizia-se, sempre a boca pequena, que eles drogavam e violentavam meninas e adolescentes no casarão e em apartamentos mantidos exclusivamente para festas de embalo. O comércio de drogas era, e é muito enraizado naquela cidade. O Bar Franciscano, da família Michelini, era apontado como um ponto conhecido de tráfico e consumo livres.
Araceli vivia com o pai Gabriel Sanches Crespo, eletricista do Porto de Vitória, a mãe Lola, boliviana radicada no país, e o irmão Carlinhos, alguns anos mais velho que ela. Na casa modesta, localizada na Rua São Paulo, bairro de Fátima, era mantido o viralata Radar, xodó da menina, que o criava desde pequenino. Segundo o escritor José Louzeiro que acompanhou o caso de perto e o transformou no livro "Araceli, Meu Amor" - o nome Radar foi escolhido pela garota "para que o animal sempre a encontrasse". Araceli estudava perto de casa, no Colégio São Pedro, na Praia do Suá, e mantinha urna rotina dificilmente quebrada. Ela saía da escola, no fim da tarde, e ia para um ponto de ônibus ali perto, quase na porta de um bar, onde invariavelmente brincava com um gato que vivia por ali.

No dia 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, a rotina de Araceli foi alterada. 
Ela não apareceu em casa e o pai, num velho Fusca, saiu a procurá-la pelas casas de amigos e conhecidos, até chegar ao centro de Vitória. Nada. A menina não estava em lugar algum. Só restou a Gabriel comunicar a Lola que a filha estava desaparecida e que tinha deixado seu retrato em redações de jornais, na esperança de que fosse, realmente, somente um desaparecimento. No dia seguinte, quando foi ao colégio para conseguir mais informações, Gabriel ficou sabendo que a menina tinha saído mais cedo da escola. De acordo com a professora Marlene Stefanon, Araceli tinha "ido embora para casa por volta das quatro e meia da tarde, como a mãe mandou pedir num bilhete".

Na véspera, Lola tivera uma reação aparentemente normal ao constatar a demora da filha em chegar em casa. Primeiro, ficou enervada; depois, preocupada. No sábado, tarde da noite, sofreu uma crise nervosa e precisou ser internada no Pronto Socorro da Santa Casa de Misericórdia. Ainda no início do processo, acabariam pesando sobre ela fortes suspeitas e graves acusações. Lola foi apontada como viciada e traficante de cocaína, fornecedora da droga para pessoas influentes da cidade e até amante de Jorge Michelini, tio de Dantinho. E mais: ela era irmã de traficantes de Santa Cruz de La Sierra, para onde se mudou tão logo o caso ganhou dimensão, deixando para trás o marido Gabriel e o outro filho, Carlinhos. Não se sabe até onde Lola facilitou ou estimulou a cobiça dos assassinos em relação a Araceli.

Menina era usada no tráfico de drogas

A respeito de Dantinho e de Paulinho Helal, dizia-se que uma de suas diversões durante o dia era rondar os colégios da cidade em busca de possíveis vítimas, apostando na impunidade que o dinheiro dos pais podia comprar. Dante Barros Michelini era rico exportador de café (tão ligado a Dantinho que chegou a ser preso, acusado de tumultuar o inquérito para livrar o filho). Constanteen Helal, pai de Paulinho, era comerciante riquíssimo e poderoso membro da maçonaria capixaba. Seus negócios também incluíam imóveis, hotéis, fazendas e casas comerciais. Já o eletricista Gabriel, seu maior tesouro era a filha. No domingo, ele foi à delegacia dar queixa, onde lhe foi dito que tudo seria feito para encontrar Araceli. Na Santa Casa, ele contou a Lola o resultado de sua busca e falou da garantia dos policiais de que tudo acabaria bem. Lola pareceu não acreditar - e chorou.

O escritor José Louzeiro não tem dúvida: Lola foi, indiretamente, a causadora do hediondo crime de que sua filha foi vítima. "Na sexta-feira, a mando da mãe, Araceli tinha ido levar um envelope no edifício Apoio, no Centro de Vitória, ainda em construção, mas que já tinha uns três ou quatro apartamentos prontos, no 8º andar. A menina não sabia, mas o envelope continha drogas. Num dos apartamentos, Paulinho Helal, Dantinho e outros se drogavam. Ela chegou, foi agarrada e não saiu mais com vida", conta o escritor.

O que aconteceu realmente com Araceli Cabrera Crespo talvez nunca se saiba. E talvez, seja bom mesmo não conhecer os detalhes, tamanha é a brutalidade que o exame de corpo delito deixa entrever. A menina foi estupidamente martirizada. Araceli foi espancada, estuprada, drogada e morta puma orgia de drogas e sexo. Sua vagina, seu peito e sua barriga tinham marcas de dentes. Seu queixo foi deslocado com um golpe. Finalmente, seu corpo - o rosto, principalmente - foi desfigurado com ácido.

Corrupção e cumplicidade da polícia

Seis dias depois do massacre da menina, um moleque caçava passarinhos num terreno baldio atrás do Hospital Infantil Menino Jesus, na Praia Comprida, perto do Centro da capital. Mas o que ele encontrou foi o corpo despido e desfigurado de Araceli. Começou, então, a ser tecida uma rede de cumplicidade e corrupção, que envolveu a polícia e o judiciário e impediu a apuração do crime e o julgamento dos acusados por uma sociedade silenciada pelo medo e oprimida pelo abuso de poder.Dois meses após o aparecimento do corpo, num dia qualquer de julho de 1973, o superintendente de Polícia Civil do Espírito Santo, Gilberto Barros Faria, fez uma revelação bombástica. Ele afirmou que já sabia o nome dos criminosos, vários, e que a população de Vitória ficaria estarrecida quando fossem anunciados, no dia seguinte. Barros havia retirado cabelos de um pente usado por Araceli e do corpo encontrado e levado para exames em Brasília.

Confirmando que eram iguais.

Por que a providência? Até então, havia dúvidas que era de Araceli o corpo que apareceu desfigurado no terreno baldio. Gabriel sabia que era o da filha - ele o reconheceu por um sinal de nascença, num dos dedos dos pés. Mas Lola disse o contrário. Assim que se recuperou, ela foi ao IML reconhecer o corpo e afirmou que não era de sua filha. Louzeiro recorda um outro fato a respeito disso, altamente elucidativo. Certo dia, Gabriel levou o cachorro Radar ao IML só para confirmar, ainda mais sua certeza. Não deu outra: mesmo com a gaveta fechada, animal agiu realmente como um radar, como Araceli premonizara, e foi direto à geladeira onde estava o corpo de sua dona.

http://brasil-sempedofilia.blogspot.com.br/2012/05/morte-da-menina-araceli-cabrera-sanches.html

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